Sorte dos caçulas
Pesquisa sugere que pais mais velhos têm filhos e netos com possibilidade genética de viver mais devido ao comprimento dos telômeros herdados.
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 06/08/2012 | Atualizado em 06/08/2012
A pesquisa sugere que quanto mais tarde um homem se torna pai, maiores serão os telômeros passados para seus filhos e, possivelmente, maior a expectativa de vida dos descendentes. (foto: Chemofilic/ Flickr – CC BY-NC-ND 2.0)
O que você acha de se tornar pai aos 60 anos? Pode parecer um pouco tarde, mas seus descendentes vão agradecer. Uma pesquisa publicada na revista PNAS sugere que quanto mais velho um homem se torna pai, maior é a expectativa de vida de seus filhos e netos.
Isto aconteceria porque, à medida que o homem envelhece, produz espermatozoides com telômeros cada vez maiores. Os telômeros são estruturas que ficam nas extremidades dos cromossomos e impedem que o DNA se desfaça, como aquele plástico que fica nas pontas dos cadarços de sapatos.
A cada divisão celular, os telômeros das células do corpo se encurtam – somente nos espermatozoides a coisa acontece diferente. Nesse processo natural, alguns genes tendem a ser eliminados, causando a morte da célula e o envelhecimento do organismo.
Todo mundo herda 50% de seus telômeros do pai e 50% da mãe. Se os telômeros paternos são compridos, como tende a ocorrer quando o homem se reproduz tardiamente, mais divisões celulares são necessárias para que eles se encurtem até sumir e desgastar o DNA, ou seja, mais tempo de vida saudável tem o organismo do filho.
Eisenberg: “Homens que têm filhos mais tarde podem estar presenteando seus filhos com uma vida mais longa”
“Embora ainda seja prematuro afirmar em definitivo, telômeros maiores têm sido associados a uma maior expectativa de vida”, afirma o líder da pesquisa, o antropólogo Dan Eisenberg, da Universidade de North western nos Estados Unidos. “Então, homens que têm filhos mais tarde podem estar presenteando seus filhos com uma vida mais longa.”
Essa ideia, apesar de recente, não é inédita. Desde 2005 trabalhos vêm mostrando que pais mais velhos têm filhos com telômeros mais compridos. No entanto, o estudo é o primeiro a mostrar que a influência dos telômeros paternos é aditiva e ultrapassa gerações.
- Os telômeros ficam na extremidade dos cromossomos (em rosa) e impedem o desgaste do DNA que leva à morte celular. Seu encurtamento indica o envelhecimento genético. (ilustração: Sofia Moutinho)
A equipe de Eisenberg mediu o comprimento dos telômeros do sangue de 1.779 jovens filipinos entre 21 e 23 anos e de suas mães, entre 36 e 69 anos. A idade em que os pais e os avós dos jovens se tornaram pais também foi anotada.
A análise desses dados revelou que a cada ano que os homens (pais e avós) deixaram de ter filhos, o comprimento dos telômeros de sua prole cresceu o equivalente ao que um adulto de meia idade costuma perder de comprimento de telômero a cada ano.
Os pesquisadores também constataram que o comprimento dos telômeros dos avós edos pais tem o mesmo efeito sobre o comprimento dos telômeros do filho. “É cumulativo”, explica Eisenberg. “Se o seu avô teve seu pai aos 50 anos e seu pai te teve aos 20, ou o contrário, seus telômeros terão o mesmo comprimento. Sorte de quem tem um pai que se reproduziu tarde e um avô que também se tornou pai tarde.”
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